sábado, 10 de janeiro de 2015

Metamorfose






As borboletas são as flores
que, enfim, conseguiram voar,
mas vivem a rondar as plantas
como quem ronda o antigo lar;
há sempre, pelo ar, um jardim
de rosa múltipla e jasmim,
e há, talvez, a vontade enorme
em tudo de perder seu peso,
ter a leveza de quem dorme,
ser a lembrança no abandono,
ou luz de estrela se apagando. 
Alberto da Cunha Melo
A borboleta e a flor
A pobre flor disse à borboleta: não fujas!
Olha como os nossos destinos são
diferentes:
Eu fico, e tu vais embora!
E, todavia, amamo-nos,
Vivemos sem os homens, longe deles.
Somos parecidas:
Dizem que ambas somos flores!
Mas, infelizmente,
O ar leva-te e a terra prende-me.
Destino cruel!
Quisera eu perfumar o teu vôo,
Com aroma no céu.
Mas não, andas demasiado longe,
A esvoaçar por entre as flores.
Foges, e eu fico sozinha
A ver a minha própria sombra
Girar aos meus pés.
Foges, depois voltas,
Vais-te embora outra vez,
E brilhas algures!
Por isso me encontras sempre,
Em cada madrugada,
Orvalhada em lágrimas!
Ah! Afim que o nosso amor possa
Viver dias de felicidade,
Raínha minha,
Ganha raízes como eu,
Ou dá-me asas como tu!
Victor Hugo
“Borboleta dos amores,
Como a outra sobre as flores,
Porque és volúvel assim?
Porque deixas, caprichosa,
Porque deixas tu a rosa
E vais beijar o jasmim?!”
Casimiro de Abreu
Nada no mundo se repete.
Nenhuma hora é igual à que passou.
Cada fruto que vem cria e promete
Uma doçura que ninguém provou.
Mas a vida deseja
Em cada recomeço o mesmo fim.
E a borboleta, mal desperta, adeja
Pelas ruas floridas do jardim.

Miguel Torga

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